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Uma reflexão de aniversário dos últimos 15 anos que se passaram

Era julho de 2007 e durante o sono me aparece uma menina, sentada no alto do muro, reflexiva, preocupada. Às vezes olha para o lado, para frente, para baixo.

Tão desolada e sozinha na expectativa do que estaria por vir, e qual atitude tomar.

De sobressalto, acordo intrigada, e intuitivamente penso: “o que será, que essa menina, com uma aparência pouco familiar a mim, está querendo dizer? Por que ela apareceu no meu momento, no meu sonho, na minha história? Qual era o plano?”

Passo, incomodada, a analisar o repertório daquela cena, dos gestos, dos comportamentos, da simbologia, da linguagem figurativa, e, então, em uma percepção mais aguçada, penso: esta menina, sou eu, a Carla. Uma mulher recém graduada em Comunicação Social, 23 anos, à procura de um caminho mais estável como jornalista. Sozinha, na maior cidade da América Latina, em 19 metros quadrados do primeiro andar, que dão vista para o lado da Augusta tumultuada. Tão tumultuado como estava o meu coração, o meu desejo, anseios, e uma angústia instalada e entalada no fundo da garganta.

Com os planos à deriva e uma insistência desmedida para que retornasse ao caminho original, foi em agosto que foram feitas as malas, e junto com delas partiu uma Carla confusa, inconformada, e quem sabe, com novos planos assinalados.  

Foi então que recomecei, relutante, uma nova história: menos glamorosa, mais comedida, de jornalista à estagiária de Direito, e novamente sentada nos bancos da universidade.

Por momentos, em meus pensamentos, parecia que deveria aceitar a derrota dos meus desejos, da independência, da liberdade, de uma vida mais adulta e mais autônoma, mas no fundo de minha alma, e na minha consciência, sabia que retroceder aos meus ideais tinha a razão de alçar voos mais altos, e voar em um limite improvável.

Hoje, 15 anos separam aquela menina desta mulher que vos fala, e, então veio a surpresa com o passar dos anos: o quanto realmente voei em limites improváveis e superei as contrariedades, para me tornar, como mulher, muito mais do que me imaginei enquanto menina ou quando estava instalada em 19 m² da rua Augusta.

Acordo então daquele sono incômodo, para visualizar o meu horizonte em uma perspectiva mais grandiosa, ampla, em que se olha menos para baixo, de forma turva e cabisbaixa, mas que mira, com confiança, a profundidade da vida e de minhas conquistas, não sem dor, mas com uma confiança de que o extraordinário acontece, basta viver com fé, coragem e determinação.

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