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Reportagem: Terapia Musical para Jovem

Modismo mundial, vertente musical mais emotiva e romântica coloca jovens no divã do rock; especialista diz que o comportamento pode fazer bem

Adorado e venerado desde os tempos de Elvis Presley, o rock anda popularizando uma maneira mais emotiva e romântica de interagir com a realidade dos adolescentes. A nova onda mundial do gênero, conhecida por emocore (abreviação em inglês para hardcore emocional), pode servir de estimulo para garotos e garotas darem vazão a conflitos da idade com musicalidade. Cantarolar melodias mais emotivas do que o normal é moda.

“As músicas falam como é importante amar e valorizar o coração, mas também sobre divórcios, falta de compaixão, garotas, drogas e decepções amorosas. Me identifico porque sempre tive um lado muito sensível, sempre fui um garoto muito romântico. Quando estava na terceira série já escrevia cartas para as meninas. Se elas não queriam saber de mim, eu ouvia música triste e chorava muito, porque tudo isso é triste”, confessa João Paulo Silveira da Silva, que prefere não revelar a idade.

Idolatrado por uma legião de emos (nome dado a quem curte emocore), o vocal e baixista trio musical MXPX, Mike Herrera, em entrevista à Folha de S. Paulo, afirma que as músicas fazem sucesso porque são sobre assuntos que as pessoas mais se identificam. “Tento cobrir diversos aspectos da vida, até mesmo política e espiritualidade. Só que o que mais me inspira são as coisas que me tiram do sério. Mas sempre tento dar uma virada, mostrar que não é tão ruim assim viver, apesar dos momentos difíceis.”

Tido como molengas (“wimps” ou “weaklings”) por fãs de hardcore, os emos ganharam fama por expressar seus sentimentos com mais facilidade. Prova do modismo (para muitos apenas música, não estilo de vida) é a proliferação virtual de grupos que pregam maior tolerância a diversidade sexual e fazem apologia ao amor. A maioria dos usuários de fóruns sobre estes assuntos se considera emo, como se pode perceber navegando por perfis em sites como o Orkut.

“Muitas pessoas da sociedade em que vivemos não têm coragem de dizer o que sentem por serem mal interpretados, principalmente os meninos. Eu acho que mostrar seus sentimentos é uma característica muito importante dos emos; só que com isso eles sofrem muito preconceito por pessoas ignorantes. Não é nada muito diferente, somos pessoas como todas as outras, nós não fazemos nada anormal. Minha rotina é colégio, net à tarde e sair com os meus amigos. O que somos diferentes é que não somos arrogantes, somos sensíveis e nos esforçamos para não magoar as pessoas. Odiamos confrontos e brigas”, afirma a jovem Aline Saltorato, 16 anos.

Ela ainda revela que infelizmente muitos apenas copiam o estilo sem saber direito do que se trata. “É aquela coisa um fala para o outro, que mostra as músicas, o outro acha bonitinho e copia e já fala que é emo! Tem muitos posers hoje em dia.”

Para o psicólogo e professor do Departamento de Psicologia Social e Institucional da Universidade Estadual de Londrina (PR), João Batista Martins, é comum o jovem se agrupar com outros em razão de gosto e estilos parecidos, durante um tempo. “Falar sobre os problemas nesse período é muito importante, não é bobagem. No caso da música, a partir de seu conteúdo, ele passa a desenvolver e aprimorar seu comportamento social. Se há liderança positiva, o resultado pode ser satisfatório. Pode evitar problemas futuros.”

Apontada como positivo na formação do adolescente, segundo ele, a música ajuda o jovem a enfrentar questões problemáticas da idade. Cantar os problemas faz bem, uma vez que permite ao indivíduo elaborar melhor os conflitos. Por meio da atividade, é possível perceber que o problema particular pode ser igual ao da maioria. “Isso é extremamente saudável”, diz.

Mas os pais devem ficar alerta para saber até onde vão as atitudes do filho, procurando ajuda se for o caso. Muitos podem não enxergar um problema mais grave, ao julgarem o comportamento excessivamente emotivo apenas como conseqüência da turbulência comum dos adolescentes, alerta o especialista.

Reportagem realizada em 2006 com Diego Palmieri