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Reportagem: Relatos entre Amigas

“Quero falar de uma coisa: amigo é coisa para se guardar debaixo de sete chaves, dentro do coração, nas estrofes de um livro”

“Acho que determinação é um doce que escorre nas veias”, explica a chef pâtissière Flávia Amorim ao relatar a sua trajetória profissional no livro “Perfil de uma Amiga”. A personagem de parte dessa história é a avó de Flávia, que influenciou seus dotes culinários. Uma carta reconfortante para alguém que sofre de uma grave doença. Homenagens de amor para quem já foi e é muito importante para o Brasil e para a devoção espiritual. Agradecimentos a pessoas particularmente especiais nos momentos difíceis e nem tão difíceis da vida são algumas das narrações que compõem as antologias de “Perfil de uma Amiga”.

No dia 27 de março houve o lançamento da obra na livraria da Daslu. A arrecadação do livro será destinada a diversas instituições, como o Hospital do Câncer de Barretos. A organizadora do livro, Silvia Bruna Securato, publica quatro versões de antologias por ano. O convite, segundo ela, é feito de maneira informal: amigas que se encontram com amigas, e que em meio a conversas cotidianas, surgem assuntos que mais tarde são dispostos em forma de livro. “Muitas pessoas gostam de escrever, mas não têm oportunidade ou intimidade. Para se escrever um capítulo, colocar uma poesia que se tem guardado faz tempo, ou um conto, essa idéia de fazer o livro é muito interessante, porque vai desabrochando essa vontade e despertando esse talento que ainda não houve a oportunidade de desenvolvê-lo”.

A cirurgiã plástica Larissa Gonçalves do Nascimento atesta a declaração de Silvia ao alegar que o incentivo desperta talentos. “Na verdade eu sempre tive um sonho de escrever antes de me dedicar à medicina e à cirurgia plástica. Eu acho que a leitura é importante para qualquer pessoa. Todos nós temos que ter educação por base. E a forma de ler é uma forma de se exercitar. E lendo muito, dá vontade de escrever. Porque até as experiências de vida dá para transmitir para outras pessoas, no caso desse livro, cada uma passou um pouco da sua história para o outro”.

Como em toda história que se fala de amigas, um perfil sempre bem lembrado é de mãe, e Silvia Maria Dellivenneri Domingos relatou e o homenageou muito bem a quem ela chama de amiga e de mãe espiritual: Nossa Senhora mãe de Jesus, como ela mesma nomeia. “O título do meu texto é Mãe, e me chamou muito a atenção quando eu li a frase “Perfil de uma Amiga”, porque a palavra amiga vinha com letra maiúscula. Então, eu logo me reportei a um ser maravilhoso, que é Nossa Senhora mãe de Jesus, a mãe Maria. Maria sempre foi uma companheira para mim. Parece que ela até conversa, ela fala comigo, e ela me transmite uma paz, algo muito bom quando eu estou rezando para ela. Eu começo o texto falando sobre mães e descrevendo o que significa essa mãe para mim, e até o final do meu texto as pessoas não sabem que se trata da mãe Maria, então, eu revelo que é de Nossa Senhora que eu estava narrando”.

A escritora e poetisa Fernanda Péper participa de vários projetos da editora Oficina, coordenada por Silvia Securato. Ao receber a proposta de escrever antologias de “Perfil de uma Amiga”, confessa ter encontrado dificuldades em criar um texto e expor de forma livre seus sentimentos. “Foi um pouco difícil, aí eu acabei me lembrando de uma amiga, de um momento difícil que eu passei, o meu divórcio, após um casamento de sete anos. Eu estava sem estrutura nenhuma para continuar a minha vida. Essa situação mexeu muito com o meu emocional, e essa minha amiga foi meu braço direito na época. Por isso que eu escrevi em homenagem à ela Isso faz a gente refletir bastante sobre o valor da amizade, o quanto a gente pode crescer trocando com o outro essa vivência”, afirma.

Tão importante quanto o apoio da amiga de Fernanda foi para ela vislumbrar novos caminhos de esperança e felicidade, foi a carta que Lena Antabi escreveu há dez anos atrás para uma amiga que sofria de câncer, extremamente reconfortante para um período de medos e inseguranças em que o carinho e a compreensão são fortes alicerces para derrotar a doença. Em “Perfil de uma Amiga”, essa carta ganha fama e espaço no livro. “A minha amiga, que se chama Taís é para quem eu endereçava a carta. Ela é muito querida. Ela sempre me disse que lia a carta todos os dias quando estava doente, e hoje, com a graça de Deus, ela está completamente recuperada, e eu achei que seria interessante colocar essa carta para alguém, que por ventura, esteja doente e se entusiasme com aquilo que eu escrevi com as minhas palavras e também se recupere”.

Uma homenagem e o relato da história de vida do pai do comércio no Brasil, Caio Alcântara Machado, também são encontrados em “Perfil de uma Amiga”. Adelina Silveira de Alcântara Machado, companheira há 34 anos de Caio é quem escreve o texto em dedicatória ao fundador do Parque Anhembi, o maior centro de eventos da América Latina. “Eu dediquei o meu texto ao Caio Alcântara Machado, perfil de um amigo, que foi realmente o homem mais amigo que eu conheci na minha vida. É um homem que foi pioneiro. Na época das indústrias ninguém pensava em fazer comércio e ele resolveu fazer feiras no Brasil. E hoje, quem não faz feira não faz negócio. Eu tenho muita honra de ter tido ele como grande companheiro. E por isso, eu dediquei a minha antologia a ele, o poderoso que fez o Anhembi”.

Cinqüenta mulheres, 50 textos com diferentes narrações e modos de descrever a amizade, observa Guilherme Afif Domingos, candidato à presidência da República em 1989 e atual secretário do trabalho e do emprego do governo do Estado de São Paulo, marido da co-autora Silvia Maria Dellivenneri Domingos. “Eu acho que “Perfil de uma Amiga” passa a ser um livro de consulta, de inspiração. Muitas vezes as pessoas acabam encontrando em um dos textos alguma coisa que tem a ver com consigo, de um conselho que se está precisando naquele momento. Portanto, não é um autor escrevendo, são 50 autoras mulheres, e a mulher tem uma sensibilidade muito aguçada, tanto que eu posso dizer, em resumo, que esse livro significa sensibilidade concentrada”.

A chef pâtissière Flávia Amorim relembra: “eu sentava na minha casa e ficava observando a minha avó fazer os doces. Participava, ajudava ela. E aí, hoje em dia eu botei uma foto dela no meu ateliê, e hoje eu escrevo o meu texto contando a minha trajetória em homenagem à ela, a minha amiga. Acho que a escolha da minha profissão é uma coisa de sangue mesmo”.

Reportagem realizada em 2007

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