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Reportagem: Reintegrando o menor infrator na sociedade.

O projeto Murialdo realiza oficinas, palestras, trabalhos voluntários e assistência familiar para a reintegração do adolescente infrator na sociedade.

Ressocializar, educar, inserir medidas sócio-educativas como forma de reintegração do adolescente autor de ato infracional. Essa é a proposta do projeto Murialdo, que teve início em abril de 2000.  O projeto é uma iniciativa da Epesmel, Escola Profissional e Social do Menor de Londrina, e tem como parceiros a Prefeitura de Londrina e o Governo do Estado.

O Murialdo é dividido em setores e conta com o trabalho de seis assistentes sociais, uma psicóloga, três educadores, três oficineiros e 15 agentes comunitários. Atualmente, atende 300 adolescentes em processo de Liberdade Assistida, para os autores de delitos mais graves, como tráfico de drogas e assaltos, e de Prestação de Serviços, que são os delitos mais leves.

Por determinação do Juiz, na Liberdade Assistida, o adolescente fica um período mínimo de seis meses sob os cuidados dos participantes do projeto, que nesse espaço de tempo tenta reintegrar o pequeno infrator na sociedade por meio da escola, de cursos profissionalizantes, trabalhos voluntários e assistência familiar. E na prestação de serviços, no período máximo de seis meses, o adolescente participa de oficinas de grafite e de fantoche, além da assistência familiar.

A coordenadora do projeto Murialdo, Jaqueline Micali, fala sobre a mudança e os resultados que ele proporcionou positivamente na vida dos adolescentes. “Até agora, já passaram 1500 adolescentes pelo projeto; desses 65 morreram, devido ao tráfico de drogas ou às brigas de gangue. Porém, no ano passado, a gente contou com um índice de 80% de não-reincidência na Liberdade Assistida. Então, muitos tiveram a oportunidade de se reintegrar novamente na sociedade e levar a vida como qualquer outra pessoa comum”.

Jaqueline lembra ainda de um ex-integrante do projeto Murialdo. “Nós tivemos um menino que veio para o Murialdo no ano de 2000, e ele dava muito trabalho, e o que nós fizemos foi dar assistência para ele. Depois de um tempo esse menino foi embora para São Paulo, e nesse ano ele voltou aqui com a mãe dele, e disse que todos os dias lembrava de nós, do Murialdo e que por isso que ele não voltou a reincidir no crime e que foi por isso também que hoje ele tem uma vida digna. Então, igual a esse tem muitos que saem daqui e voltam depois para falar que não estão infracionando e dizer que o projeto foi muito benéfico na vida deles”.

O adolescente Renato R. S., de 18 anos, conta o que modificou em sua vida depois que começar a fazer parte do projeto Murialdo.  “Depois que a gente vem para cá a gente para de roubar, né mano. Eles falam para a gente mudar a nossa cabeça para outro lado, não para o crime. E também a vida roubando é mais difícil, porque você não tem sossego, fica preocupado com a polícia, só pensando no crime e não tem tempo para as outras coisas”.

Rainer F. M., de 14 anos, faz três meses que participa das oficinas de grafite do projeto Murialdo. Faltando poucos dias para ele sair do projeto, diz agora ser diferente. “Não estou fazendo mais nada de errado, eu vi que o crime não compensa, você pode ganhar em um assalto o tanto de dinheiro que for, que o que vem rápido vai rápido e você acaba não se dando bem. Eles daqui ensinam bastante coisa boa e se a pessoa se conscientizar mesmo, ela vai ver que não compensa fazer o que fez”.

Uma adolescente integrante do projeto Murialdo, que não quis se identificar, diz como melhorou de vida depois que entrou no projeto: “Eu estou trabalhando na Sanepar, durante quatro horas, no setor de administração, eu recebo uma bolsa de 150 reais que o projeto me destinou por meio de outro projeto, o Adolescente Aprendiz. Muitas coisas mudaram na minha vida depois que eu entrei no Murialdo, me arrumo, falo melhor com as pessoas, sem gírias. Hoje eu penso até em fazer uma faculdade para crescer no meu trabalho. Não quero mais fazer nada de errado. Tenho bastantes amigos e colegas que foram assinados e assassinaram por causa de drogas e brigas de gangues, e eu não quero mais isso”.

Um adolescente participante do projeto Murialdo, que também não quis se identificar, deixa um recado, e diz que espera que o prefeito de Londrina veja: “O jovem precisa de chances para mudar, mais serviços, porque na hora da necessidade muita gente morre por causa do tráfico, do crime”.

Reportagem realizada em 2006

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