José de Souza Martins, sociólogo, defende em seu livro “Exclusão Social e à nova desigualdade” que não existe exclusão social. Segundo o autor, situações dolorosas designadas como exclusão falam também de dolorosas situações de ajustamento econômico, social e político decorrentes da exclusão.
As condições precárias e instáveis de vida são também formas de inclusão social, a inclusão marginal. A inclusão daqueles que são atingidos pela desigualdade social viabilizada pelas transformações econômicas e para os quais são destinados condições residuais na sociedade.
A “exclusão” tornou-se um problema com o surgimento da sociedade capitalista. Esse problema na Europa tem pelos menos trezentos anos. A maior parte dos imigrantes europeus que vieram para o Brasil entre o século XIX e o século XX veio porque estavam passando por um processo de exclusão em seu país No sistema capitalismo a lógica é o mercado, a riqueza. Assim, quem não produz riqueza é desenraizado, excluído.
No período colonial de escravidão negra no Brasil não existia a possibilidade de um senhor excluir seu escravo. O escravo era mercadoria e, além disso, produzia lucros, excluir o escravo traria danos ao senhor, uma vez que, nele aplicara seus capitais.
A discussão sobre exclusão social só veio à tona há pouco tempo, por que antes, quando havia a exclusão de alguém logo havia a inclusão novamente. Dessa forma, a exclusão não adquiria muita importância, visto que os excluídos eram reincluídos rapidamente. Portanto, a exclusão se tornou um problema social a partir do momento em que se demorou muito para reincluir as pessoas na sociedade.
O reaparecimento do trabalho escravo no Brasil deve-se à nova dinâmica do capitalismo. Atualmente, existem aproximadamente 80 mil escravos, que são pessoas excluídas, em geral camponeses expulsos da terra ou próximos disso, porque não conseguem mais sobreviver. Então, são reabsorvidos como escravos, e trabalham basicamente, para não morrerem de fome. Essas pessoas que vivem nessas condições estão incluídas, mas como escravos, que é uma forma de inclusão desumana, precária, não estão incluídas no plano social, é a inclusão marginal.
Embora a reinclusão social pareça indigna e desintegratória, existe um lado positivo no processo. José de Souza Martins cita o caso do Banco do Estado de São Paulo, que fez uma pesquisa para escolher lugares onde pudesse instalar novas agências em diversas regiões do país, lugares onde houvessem dinheiro para manter em funcionamento uma agência lucrativa. Uma das regiões escolhidas foi a favela da Rocinha, no Rio de Janeiro. ”O processo de exclusão atual cria uma sociedade paralela que é includente do ponto de vista econômico e excludente do ponto de vista social, moral e até político,” diz Martins.
Com o aparecimento da exclusão social surge o poder paralelo, que são controlados por grupos praticantes de atividades ilegais como o tráfico de drogas. “São justiceiros que estão controlando as favelas”. Segundo pesquisa feita pelo autor, o Brasil pode estar entre os países onde há mais linchamentos no mundo em que a motivação básica é autodefensiva. Na maioria dos casos, os linchadores estão preocupados com o restabelecimento da ordem e da normalidade social, rompida pelas ações de algum dos seus membros. Se o estado não proporciona cidadania à toda população, incluindo segurança, a população promove a sua própria maneira de se defender.
O livro conclui que a desigualdade atual é a diferença social, moral, política entre ricos e pobres. Todos estão inseridos no circuito econômico do capitalismo. Está crescendo no Brasil realidades de vida diferentes, conforme a classe social. Um mundo à parte está sendo criado que é a sociedade da sub-humanidade, onde está incorporado o trabalho precário, no pequeno comércio, no setor de serviços mal pagos, condições de sobrevivência indignas. A sociedade está hierarquizada, dependo da sua classe social a cidadania está mais próxima de ser concebida, incluídos na sociedade todos estão, todavia, incluídos na cidadania, realmente são poucos.
O livro faz uma reflexão importante, pois aborda a pobreza sob uma perspectiva diferente, a realidade de um traficante milionário da favela é completamente diferente da de um milionário proprietário de uma grande empresa. Com uma linguagem acessível, raciocínio lógico e inteligente, o autor esclarecer e informou os leitores com um ponto de vista original do que costuma ser veiculado.
Reportagem realizada em 2005