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Reportagem: Nem só de futebol vive o Brasil

Mais do que diversão e dança, a patinação é considerada um esporte completo: proporciona força, coordenação motora, condicionamento físico e traz os mesmos benefícios cardio-respiratórios que outras atividades aeróbicas, sendo uma alternativa para quem dispensa as chuteiras

Luzes apagadas, expectativa da platéia. De repente, uma luz se acende no meio do palco: a música começa e o público aprecia o espetáculo. Essa descrição poderia caber em qualquer encenação de teatro ou dança, mas essa é a descrição do início de uma apresentação de patinação artística, um esporte diferente. A patinação artística é um esporte que, aliado à dança, leva seus praticantes aos palcos e seu público ao encanto, observando os ritmos, os saltos e as piruetas.

Trazida ao Brasil em 1900 por filhos de famílias ricas que iam estudar na Europa, a patinação cresceu em número de praticantes e qualidade, sendo recomendada tanto pra ter um corpo bonito e saudável como para ajudar na recuperação de várias doenças.

Em Londrina, o esporte é praticado há 16 anos. Imprescindível para a regulamentação de competições e apresentações, a Federação Paranaense de Patinação foi fundada somente em 1992, sendo uma de suas fundadoras Juliana Bicalho Sanches. Patinadora desde a década de 70, Juliana possui uma extensa lista de títulos obtidos no Brasil e no exterior; atualmente é proprietária do rinque de patinação Dancing, em Londrina, único lugar no Brasil construído especificamente para a patinação artística.

Alvo de preconceito por parte de outros esportistas e da população em geral, a patinação é um esporte que traz muitos benefícios para a saúde: “tanto físicos como morais; lateralidade, equilíbrio, coordenação motora, postura, agilidade, disciplina, organização, perseverança, relacionamento inter-pessoal”, enumera Juliana. Praticante do esporte desde os cinco anos, Juliana fez muitos aprendizes. Uma de suas “pupilas”, Kendra Joy Edwards, tem apenas 16 anos e um currículo de dar inveja a muitos veteranos: 9 campeonatos, com 7 vitórias e uma 3ª colocação. Patinadora desde os 10 anos de idade, Kendra também enumera as vantagens do esporte: ”é um esporte diferente, porque inclui dança, e é completo, porque você adquire força, coordenação motora, condicionamento físico, entre outras coisas”.

Outro admirador do esporte, o engenheiro civil Bruno Veronesi, é pai de outra aluna de Juliana, Carola Veronesi, e recomenda o esporte: “eu recomendo muitíssimo para quem tem filha ou filho mesmo, trazer o filho para fazer, por que para Carola fez muito bem. Eu acho muito bonito esse esporte, primeiro por que ele é um esporte aliado à música, então ele cria não só um equilíbrio, mas também um senso de ritmo. Mas o que eu gosto, antes de mais nada, é do espírito que elas têm uma de apoiar a outra”, conta satisfeito o pai coruja, que não tirou os olhos da filha, de 15 anos, um minuto….

Para a professora de patinação Júlia Sperandio Lopes Adum, 26 anos, o maior chamariz da patinação é a grande variedade de atrações que o esporte oferece: “A patinação é incomum, não é monótona; ao contrário, ela é ampla: tem shows, campeonatos, apresentações. É bom também para as pessoas que não gostam de competir e praticam somente para dançar e patinar, existem várias modalidades” explica Júlia, que se sente realizada sendo professora de patinação. Outra vantagem, segundo a professora, são os lugares e as pessoas que se pode conhecer quando se faz patinação: “Na patinação, as pessoas conhecem muita gente, conhecem muitas cidades e clubes, a patinação envolve muita gente. Ela exige muita concentração e ao mesmo tempo muita descontração por casa da música e ambiente. É bem auto-astral”, comenta Júlia, que se diz “apaixonada” pelo esporte: “A patinação é um esporte envolvente. A maioria das pessoas quando começa a patinar não larga”, confessa.

Lucas Marque Silva Terciotti, de 11 anos, patina desde os 5  e também é dono de um currículo admirável: Lucas participou de 5 campeonatos, ganhou 4 e ficou em segundo lugar no outro. Participante de duas categorias, Lucas diz que o que mais gosta na patinação são as competições: “Nessa hora eu sinto o nervosismo, a ansiedade de competir, e daí eu penso em fazer o melhor possível, e se eu não ganhar, se não der, mesmo assim valeu”, confidencia o patinador. Mas, por participar de um esporte cuja tradição é feminina, Lucas confessa que sofre preconceito: “Muita gente pergunta:” Ah! Você não acha que isso é coisa para bixa?”. Perguntam muito isso quando eu viajo para participar de campeonatos, mas eu não ligo, não me incomodo porque é um esporte como outro qualquer e todo mundo pode praticar, tanto menino quanto menina”, esclarece Lucas.

Praticada por no mínimo 30 minutos ao dia, a atividade proporciona os mesmos benefícios cardio-respiratórios que outras atividades aeróbicas como a corrida e a caminhada, com a vantagem de modelar o corpo mais rapidamente. Além disso, a patinação é recomendada a todas as pessoas com desvio de coluna pôr ser um exercício simétrico. É também uma boa atividade para a coordenação, visto que o patinador irá se esforçar para manter o equilíbrio. A motricidade, exercida durante a permanência na quadra de patinação, tende a diluir as tensões do dia a dia, deixando o praticante menos tenso. E como qualquer outra atividade física, há uma acentuada redução da angústia.

Para quem procura um esporte alternativo e dinâmico, a patinação poderá trazer ótimos resultados. Uma alternativa diferente para quem quer fugir do futebol, trocar as chuteiras pelos patins não vai fazer de ninguém “menos brasileiro”. Para patinar em Londrina, vá à Dancing Patinação: Avenida Santos Dumont, 940. Telefone: 43 33257288. E-mail: dancing.patinacao@dancing.rec.br.

História da Patinação

Foram encontradas, na Europa, gravuras datadas do século XVIII que mostram pessoas se locomovendo com rodas de 25cm de diâmetro, como se fossem miniaturas de rodas de bicicleta, acopladas a cada pé. Seriam esses os primeiros patins? Não se sabe. Mas o fato é que, desde então, essas “engenhocas” têm evoluído até a versão com quatro rodas em cada pé (duas na frente e duas atrás) e um mecanismo de freio, patenteada por James Leonard Plinpton em Nova York, na década de 1870, precursora dos patins que conhecemos hoje.

Mas a patinação artística sobre rodas é uma derivação da patinação artística sobre o gelo, que começou a ser praticada pelos europeus na Idade Média; na Noruega, surgiram os primeiros patins de gelo em 1000 a.C., utilizando ossos presos aos pés. Primeiro, como meio de transporte para atravessar lagos congelados e, mais tarde, como forma de recreação, a patinação no gelo foi se expandindo até que surgiram as primeiras competições, já substituindo os ossos por materiais que possibilitassem uma maior velocidade, como lâminas de ferro. Porém, no verão o gelo derretia, e o esporte foi “adaptado”.  Rodas no lugar das lâminas, e ginásios ao invés de lagos congelados: assim surgiu a patinação artística sobre rodas.

Linha do tempo

1676: Realização da primeira corrida de cidade a cidade , nos canais congelados da Holanda.

1760: Criação dos primeiros patins de rodas, pelo belga Joseph Merlin. Esses primeiros patins não permitem mudança de direção e nem freiar.

1790: Registro da patente dos patins de rodas, pelo holandês Valende.

1830: Formação do London Skatins Club (Clube de Patinação de Londres).

1842: Construção da primeira pista de gelo artificial indoor.

1848: Manufaturados nos Estados Unidos os primeiros patins de gelo totalmente de aço, presos à bota por parafusos.

1860: Inauguração do primeiro rink coberto, no Canadá.

1863: Patenteados os patins tradicionais de rodas paralelas, por James L. Plimpton.

1879: Formação da National Skating Association, na Grã Bretanha.

1881: Realização do primeiro Campeonado Britânico de Patinação Artística.

1882: Realização da primeira competição internacional. Foi composta por 23 figuras compulsórias, uma figura de criação do próprio competidor e um programa livre de 4 minutos. Criação do salto Axel, pelo norueguês Axel Paulsen.

1892: Fundada na Alemanha a ISU – International Skating Union – o órgão regulamentador da patinação no gelo no mundo inteiro.

1896: Realização do primeiro Campeonato Mundial de Patinação Artística, em São Petersburgo. Nesta edição só participavam homens.

1902: Realização do primeiro campeonato mundial feminino, em Munique. As competições masculina e feminina eram, então, realizadas separadamente.

1908: Realização do primeiro campeonato mundial de duplas, também separado das outras duas modalidades.

1909: Construção da primeira pista de gelo artificial ao ar livre. Criação do salto Salchow, pelo sueco Ulrich Salchow.

1910: Criação do salto Loop, também conhecido como Rittberger, pelo alemão Werner Rittberger. 1913: Criação do salto Lutz, pelo austríaco Alois Lutz.

1925: Realização do primeiro salto duplo, um Double Loop, pelo austríaco Karl Schaefer.

1928: Realização dos primeiros Double Salchow, pelo sueco Gilis Grafström e pelo canadense Montgomery Wilson.

1932: Unificação das competições de patinação artística, que passaram a contar com as competições masculina, feminina e de duplas no mesmo evento.
Execução do primeiro Double Lutz, pelo americano Richard Button.

1952: A competição de Ice Dance (dança no gelo) estréia no campeonato mundial de Paris. Richard Button executa o primeiro salto triplo em competições, um Triple Loop.

1961: O Campeonato Mundial de 61 é cancelado, por causa de um desastre de avião que matou toda a delegação americana.

1962: Execução do primeiro Triple Lutz, pelo americano Donald Jackson.

1978: Execução do primeiro Triple Axel em competições, pelo canadense Vern Taylor, no Campeonato Mundial.

1986: Execução do primeiro salto quádruplo em competições. Um Quádruplo Toe-Loop, pelo checo Jozef Sabovcik, no Campeonato Europeu de 86. Este feito é contestado porque ele teria tocado o pé livre no gelo.

1988: Execução do primeiro Quadruplo Toe-Loop (perfeito) em competições, pelo canadense Kurt Browning, no mundial de 88.

Reportagem realizada em 2006 com Mayra Laís Marin

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