Nélio Pinheiro estiliza a moda ao criar estampas e modelagens diferenciadas
“Moda não é simplesmente a representação de roupas, é também reflexo do comportamento e o estilo de cada um. Eu tento sempre ver e entender as informações do dia a dia para depois eu fazer uma reciclagem de tudo o que eu penso, do que eu gosto. Porque eu definiria o meu trabalho como algo que envolve o coração, que exterioriza o interior. A minha moda tem um lado poético e expressivo dos acontecimentos e é influência do que nós vivemos nos momentos políticos, sociais e culturais, do que eu sinto, do que eu vivo”, comenta o estilista Nélio Pinheiro, 42 anos, outrora funcionário de banco e estudante de matemática. Ainda jovem, aos 22 anos, decide encarar o mundo fashion e expor o seu sentimento e a forma de compreender a vida por meio da criação de peças do vestuário feminino. Talento despertado ainda na infância, quando ajudava as próprias irmãs a se arrumarem , mas que só foi aflorado já adulto.
Com duas lojas, uma em São Paulo, onde fica instalado o show room de suas roupas e outra em Londrina, localização de sua fábrica e confecção de suas criações, Nélio Pinheiro possui formação universitária em design industrial e pós-graduação em moda, e assume: prefere o estilo despojado ao convencional. Muito colorido, estampas, uso de tecidos naturais, novos formatos e amarrações diferenciadas compõe o visual estilizado de suas roupas. “As criações que eu faço têm um apelo comercial porque ela precisa ser vendida, mas, ao mesmo tempo, ela é cheia de diferencial, ou é nas cores, nas formas, ou na escolha da matéria prima, na modelagem, e uma peça tem sempre um detalhe diferente da outra. E eu gosto muito de trabalhar com linhas de roupa em que a pessoa não precisa usar só numa coleção, então a peça pode ser um pouco mais durável, e a pessoa pode usar mais vezes também.”
Para Nélio Pinheiro, criar significa exteriorizar sentimentos, por isso, apesar de suas roupas serem identificadas pelo colorido, cada coleção apresenta uma maneira diferente de representar a vida e o pensamento do estilista. “A emoção é muito forte na criação, e depende muito também de como eu vivo e de como eu entendo a vida, aquele momento, o que está acontecendo, se está uns fluidos bons, se não estão. Isso reflete muito na criação, de como eu penso, e de como eu vejo o mundo ao meu redor e de como também as pessoas entendem e me transmitem o próprio mundo delas, por isso, têm coleções em que eu estou mais colorido, outras, mais fechado. As cores ás vezes são mais iluminadas, vivas, ou mais sóbrias, e ás vezes são a mistura de tudo, porque eu sou aberto a várias vertentes, uma hora eu gosto do curto, daí eu gosto do comprido, mas, na verdade, têm elementos que são sempre vistos na coleção, que é o caso da Chita, estampas de arame farpado, que sempre se renovam”, explica Nélio.
Situações cotidianas, familiares, e até em notícia de jornal e roteiro de filme Nélio Pinheiro encontra inspiração para compor o processo de criação. “Algo bem interessante que eu me lembro foi um figurino que eu fiz em cima do curta-metragem que aconteceu em Londrina, que se chama Maria Angélica. Eu fiquei muito apaixonado pela história da menina Maria Angélica, em que é observado o renascimento dos tempos da inocência, um reflexo da infância do passado traduzida pelo presente. Então, a minha coleção ficou mais poética, mais romântica e mais fortalecida também, porque se eu tenho direções para seguir, e existem condições para se fazer isso, já que a empresa me dá chances, eu acho que o trabalho fica muito mais rico, porque nesse caso a pessoa não se influencia por meio de tendências. A pessoa vai buscar a tendência em cima de influência. E isso é bem legal!”
Blusa que vira saia, vestido que vira blusa, blusa que tira manga, longo que fica curto são formas de criação sempre presentes na coleção de Nélio Pinheiro. Em uma de suas peças, uma túnica com duas mangas compridas, é possível inventar mais de 25 modelos diferentes para se usar da maneira que bem convier. “Eu estava lendo os livros da história da indumentária e me interessei pela indumentária grega, que eram compostas por algumas túnicas. Então, eu comecei a trabalhar nas amarrações dessa roupa. Primeiramente, minha idéia era trabalhar com formas geométricas. O quadrado com um furo em que a pessoa conseguisse criar formas em cima daquela proposta. Então, eu desenvolvi a peça, e encontrei o material certo, que é um tule elástico. É uma peça simples, mas cada cliente, cada mulher dá o seu toque pessoal, como usar a faixa, de como drapear no corpo, e a roupa que está fazendo o maior sucesso na coleção é essa túnica”, lembra orgulhoso Nélio Pinheiro.
Para a nova coleção outono-inverno, Nélio retirou um pouco as estampas, que é o seu forte, e trabalhou mais com linhas de peças lisas, entre elas, o preto, o verde, tons de roxo e algum cinza. Uma cartela de cores mais sóbria, tanto nos tecidos planos como nos de malharia. O diferencial e a estilização ficaram por conta da modelagem, roupas que, assim como os carros que aceitam álcool e gasolina, são flex, ou seja, podem ser usadas de diversas maneiras e formas e em várias coleções.
Em se tratando do estilo próprio de se vestir Nélio Pinheiro, no cotidiano são preferíveis as roupas mais básicas, que exprimem conforto, mas admite, quando vai passear, arrasa : “na verdade, no dia a dia eu tento usar roupas mais confortáveis, como o jeans, porque eu faço um monte de coisas ao mesmo tempo, como vitrine, loja. Mas, quando tem algum evento eu me arrumo de acordo com a ocasião. Gosto de fazer roupas novas para mim também, e então, eu faço modelão, produção com algumas combinações de peças que eu tenho, mas não me arrumo para os outros não, me arrumo para mim mesmo. Quando eu saiu eu arraso, ou pelo menos tento”, conta meio rindo meio sorrindo o estilista de moda Nélio Pinheiro.
Reportagem realizada em 2007