Reveillon, início do ano e um turbilhão de pensamentos nessa hora são inevitáveis. Os projetos, derrotas e sucessos atingidos são reflexões constantes e as escolhas que fizemos durante todo o período são partes desse processo, que podem a curto ou a longo prazo, modificar também qualquer planejamento. É quando me recordo do filme “Efeito Borboleta”, ao retratar que uma simples escolha possa alterar todo o percurso de um caminho, em outro entendimento, que assim como a borboleta esse caminho possa ser transformado.
Então me ponho a pensar se as escolhas, de um ano tão difícil e complicado como foi o meu, foram mais sensatas e inteligentes emocionalmente e racionalmente para a minha vida, o meu bem estar e o meu futuro. Abrir mão de um grande amor desgastado, de fato, adorável no passado, para ter a possibilidade de viver um amor simples na sua forma de agir, mas pleno de realizações e alegrias. Dispensar o exercício de uma única profissão, de um simples gosto e prazer por uma atividade pouco viável, pela prática, quem sabe, de outra aparentemente mais rentável e respeitável. De uma independência prematura para outra mais lenta, porém, mais prudente e consciente.
E apesar de ser bem sensível e um tanto quanto carregada pelas emoções, um senso de racionalidade se torna mais presente em mim. Não mais acredito em príncipes encantados, e isso já há um bom tempo, nem em meias palavras, e algumas vezes, nem nas inteiras e ditas de boca cheia. Não acredito que o ideal baste, que o prazer sustente e que somente a imaginação e a poesia superem qualquer desajuste, embora uma pequena dose desses ingredientes seja imprescindível para a conquista da felicidade. Não existem regras, mas hoje eu sei que algumas tradições são necessárias.
Se as escolhas que fiz e penso em fazer estão certas é algo que eu realmente não tenho como afirmar, até porque esse certo é tão subjetivo quanto possa ser o meu caminho daqui até 2009, 2010 e assim por diante. No entanto, o que posso assegurar é que nesse ano que se inicia me sinto de fato renovada e bem mais confiante comigo mesma e com os meus projetos.
Meu Réveillon de 2016 não foi muito comemorado. Sabia que seria um ano difícil! Não imaginava o que estava por vir, porém, teria que enfrentar muitos aspectos da minha vida!
Eu tinha duas opções: cair no comodismo e não passar por grandes turbulências, porém, viver na insatisfação de uma vida, que com o passar do tempo poderia ser considerada medíocre ou ter a coragem de encarar, por mais doloroso que fosse, o que parecia ser entendido como o banal e o natural, mas que não me dava ânimo e satisfação para levantar da cama! Precisava enfrentar o que guardava para dentro de mim: problemas mal resolvidos e com as pessoas ao redor, inclusive as mais íntimas, ainda que algumas situações de conteúdo meramente psicológico, mas que não despertavam o meu melhor e me estimulavam para seguir em frente com meus planos e metas!
É como ir na terapia: somente os corajosos estão dispostos a enxergar a ferida que ninguém quer tocar, mas que te impedem de transbordar…
É somente os corajosos que estão dispostos a avaliar uma “verdade” dolorosa e não tão universal como as teorias de contos de fada ou do tem que ser porque assim a sociedade e os bons costumes quiseram. Somente os corajosos conseguem para todas as teorias prontas inserir um por quê no final. Enfrentar a mediocridade que está por vir é como tratar de um câncer com quimioterapia. É claro que o tratamento é doloroso e inicialmente pode até te deixar mais debilitado, todavia, é o mesmo tratamento que vai te salvar, e o salvamento, no caso, seria da vida mesquinha.
Por isso, nesse réveillon de 2017 eu comemoro, não porque 2016 foi felicidade, mas porque 2016 possibilitou o meu despertar quando tive que enfrentar todos os aspectos da minha vida com todo meu emocional incluído. Quando pude satisfatoriamente crescer como mulher, esposa, como filha, irmã, advogada, outrora mestranda, “empresária”, e sobretudo como ser humano dotado de sentimento, acertos e falhas e que amou mais do que pôde. Quando aprendi a acreditar desconfiando, não porque há uma malícia nas palavras de quem amamos, mas muitas vezes porque nem a própria pessoa se dá conta da responsabilidade do que faz ou fala. Quando observei, em alguns momentos que tudo dependia somente de mim e da minha coragem e que eu podia ajustar o caminho, mas que se fosse necessário, teria que traçar uma nova rota!
O Caminho foi ajustado, poucas novas rotas foram necessárias traçar e recebo 2017 de braços abertos com a certeza de que nem sempre acertarei, mas que terei a coragem de me enfrentar, com todo o amor e humanidade possível para que todos os dias eu possa transbordar!
Crônica de 2007 e 2017